Capítulo 87

Fomos o caminho todo calados. Quando eu tentava falar, me redimir, me explicar,ela me mandava calar a boca. Quando finalmente chegamos em frente ao seu prédio, falou:

- Você tem até o fim do dia pra anunciar o fim do nosso namoro. - me olhava friamente.

- Mabele, você está com raiva e nem me ouviu direito.

- Preciso ouvir, Luan? Você acha mesmo que eu preciso ouvir?

- Precisa! - falei firme.

- Eu já ouvi demais. Me poupe de suas mentiras. Amanhã a noite você pode vir pegar suas roupas que tem aqui. - falava tão friamente. Meu peito doía.

- Você tem certeza do que você quer?

- Absoluta. Eu mereço alguém que tenha caráter e que seja homem o suficiente. Sinceramente, eu te desejo muito sentimento de culpa, arrependimento. Te desejo aquelas saudades bem filhas da puta. - ela tinha raiva e mágoa em sua voz e em seu olhar. Aquilo estava me matando.

- Para com isso. - suspirei.

- Tchau, Luan. - abriu a porta, pegou sua mala no banco de trás e entrou sem olhar pra trás. Enquanto eu fiquei ali parado, sem rumo. Sem saber o que fazer, sem saber como vai ser minha vida sem ela. Ela me desejou tudo isso, mas mal sabe que eu já sinto até demais. Eu fui burro! Fui canalha! Eu sei, mas eu a amo, como nunca amei outra mulher. Dei um soco no volante, quando percebi que eu já chorava novamente.

* Mabele narrando.

Assim que cheguei ao meu apartamento. Fechei a porta e pela primeira vez me permiti chorar. Sentei no sofá, e meu choro só tornava mais forte. Porque ele estragou tudo? Porque ele mentiu? Eu me perguntava o tempo todo. Como ele diz me amar, mas mentiu da pior maneira possível! Escondeu e esconderia até o fim isso de mim. Que canalha! Meu coração estava em pedaços. Eu não esperava... Não mesmo. Fiquei no sofá, soluçando de tanto chorar, com a cara vermelha e inchada. Era uma dor tão grande! Mas tão grande! Eu estava completamente decepcionada. Depois de alguns minutos eu decidi lenvantar e fui até meu quarto arrumar as roupas dele que tem aqui. Eu não resistia em cheira-las. Eu vou morrer de saudade. Logo as lágrimas vieram a tona novamente. Como eu namorei com uma pessoa tão sem caráter? No início do namoro eu ainda pensava que poderia ser traída, mas agora? Eu já não tinha essa insegurança. Me enganei. Me enganei novamente no amor, me enganei com o Luan.

* Luan narrando.

Cheguei em casa completamente arrasado. Meus pais me receberam, estranhando, já que eu só voltaria amanhã. Me encheram de perguntas.

- Gente, eu e a Bele brigamos. Eu preciso deitar um pouco. Depois eu converso com vocês tá?

- Nossa filho, o que foi dessa vez? - minha mãe passou a mão no rosto.

- Depois ele conta, Mari. - meu pai disse. - Vai lá. Quando você quiser falar, estaremos aqui. - apenas assenti e sorri de lado. Subi as escadas e pelo que parecia Pi não estava em casa, o que me fez agradecer. Ela quando souber vai querer me matar. É Deus no céu e a Bele na terra. Eu preciso me preparar pra contar tudo pra eles. Não vou anunciar o nosso fim hoje. Eu vou conversar com ela amanhã. Bele terá que me ouvir também. Minha cabeça parece que iria explodir. Eu fiz por merecer. Eu não tinha que ter olhado. Mas porra, eu estava bêbado! O instinto masculino falou mais alto. Só olhei, como qualquer outro cara olha. Mas isso foi longe demais. Eu deveria ter contado! Fui um covarde. As palavras pesadas que ela me disse, se passavam na minha cabeça o tempo todo.

* Mabele narrando.

Eu tomei um remédio pra dor de cabeça e deitei na cama, na tentativa falha de dormir. Meu celular tocou. Era Lô, como se sentisse que eu precisava dela. Meu anjo.

- Oi amiga. - falei baixo.

- Opa! O que aconteceu? - sorri de lado, ao perceber que ela me conhece tão bem.

- O Luan.

- O que ele fez?

- Me traiu. - suspirei fechando os olhos.

- O que? - gritou.

- Isso mesmo.

- Me conta isso direito. Não pode ser, acho que foi um mal entendido. - nem ela acreditava. É, o Luan enganou todos direitinho. Não pensei que fosse tão fácil fingir amar uma pessoa. Contei toda a história pra ela, que ficou sem saber o que falar.

- Não acredito, cara.

- Pois acredite. - respirei fundo.

- Ele merece muito pau no cu dele. - falou com raiva. - Você está arrasada, amiga. Queria muito está do seu lado. - suspirou.

- E eu queria você do meu lado também, mas não é possível.

- Mas eu vou ficar te cuidando de longe. - sorri pequeno.

- Eu vou precisar. - ficamos conversando mais um pouco e ela xingava o Luan de tudo quanto é palavrão, me aconselhava e me apoiava. Eu não sei o que contar para meus pais. Não sei se conto a verdade, ou não. É muito constrangedor, vergonhoso. Fora que meu irmão vai querer matar o Luan. Minha família iria se meter e tomar satisfação com ele. Nunca deixaram essa proteção de lado. E sinceramente, eu não quero mais confusão.

* Luan narrando.

Já estava no fim da tarde, quase noite, quando eu decidi descer e encarar mais uma das consequências. Encontrei os dois no sofá, assistindo.

- A gente pode conversar agora? - minha cara estava abatida. Eu chorei e não foi pouco.

- Senta aqui. - minha mãe bateu no lugar vazio do sofá, ao lado dela. Fiz isso e respirei fundo, colocando as mãos em meu rosto.

- Eu fui um burro mais uma vez. - os olhei, seus olhares contiam expectativa, preocupação. Comecei a contar toda a história novamente. Não gostava nem de lembrar, mas era impossível.

- Você o que Luan? - meu pai falou alterado. Eu sabia. - O que você tem na cabeça? Você não é mais nenhuma criança!

- Amarildo, calma. Você não tá vendo que ele tá mal? - minha mão passou a mão em minhas costas, enquanto eu fiquei de cabeça baixa.

- Desta vez, você errou muito feio! Você conhece a Bele, nós conhecemos e sabemos que ela não vai voltar atrás dessa decisão. - ele falou mais calmo.

- Eu sei. - falei baixo. No fundo eu sabia disso.

- Filho, você já percebeu que bebida só resulta em coisas ruins? Daquela vez vocês terminaram e a bebida estava no meio. - minha mãe falou, com aquela voz doce de sempre.

- Eu tô acabado. Ainda mais depois de tudo que ela me disse.  - minha mãe me abraçou, enquanto meu pai me observava.

- Você agiu como um canalha! - meu pai negava com a cabeça.

- Eu sei pai! Não precisa tá me lembrando disso. - me alterei.

- Calma vocês dois. Brigar não vai adiantar. - minha mãe nos repreendeu.

- Desculpa. Mas você me decepcionou mais uma vez. Parece que toda a educação que eu te dei não adiantou de nada. Eu fiz de tudo pra você se tornar um homem de caráter e você faz isso com a Bele. Ela não merece, Luan. - respirei fundo. Eu não aguentava mais ser apontado. Julgado. - Quando você estava solteiro, eu não falava nada, nem esquentava. Mas está comprometido a coisa muda. Eu nunca apoiei, desde a sua primeira namorada. Eu sempre conversei com você, para que traição não acontecesse.

- Mas eu só olhei. Aquela louca, oferecida que veio pra cima, querendo me beijar. Louca!

- Ela entendeu que você deu brecha, já que olhou. - eu negava com a cabeça o tempo todo. Ninguém vai entender não? Puta que pariu!

- Filho... - minha mãe iria falar, mas não tinha o que dizer. Até ela estava condenando meu ato. Eu sei, é errado. Mereço. - Vem comer, anda. - pegou na minha mão, mas eu neguei.

- Vou voltar pra quarto. Não fala com a Lelê ainda. Eu vou conversar com a Bele amanhã. - avisei ao meu pai, que concordou com a cabeça. As palavras que ele me disse ficaram em minha cabeça juntamente com as da Bele. Agora eu estava ainda mais arrasado, se possível.

* Mabele narrando.

Eu teria que ir buscar o Élvis na casa da minha mãe. Infelizmente sempre que eu olhar pra ele vou lembrar do Luan. Mas hoje não. Eles vão me cobrar explicações e por hoje eu não quero mais saber deste assunto. Tentava dormir, mas não conseguia. Troquei de roupa rapidamente e fui até a farmácia. Comprei um remédio para dormir. Quando estava no caminho encontrei uma das fãs dele. Elas estão por toda parte. Atendi com um sorriso no rosto. Tiramos uma foto e mais uma vez recebi o carinho delas. Será que quando o fim for assumido, elas vão mudar? Eu gosto demais do carinho delas. Por falar nisso, até agora nada de anunciar nosso término. Tomei o remédio e me joguei na cama, só assim consegui dormir e fazer com que aquele dia horrível acabasse.

* Luan narrando.

Acordei mais cedo do que o normal. Desci e encontrei Bruna já saindo pra faculdade.

- Voltaram antes porque? - perguntou assim que me viu. Então ninguém disse nada. Ela nem esperou eu responder. Beijou meu rosto e disse que estava atrasada para a aula de teatro. Agradeci mentalmente, claro.

- Como você tá? - minha mãe perguntou.

- Nada bem. Obrigado por não ter contado nada pra ela. - sorri de lado.

- Eu sei que você está muito mal. Quero evitar mais discussão, já basta aquela com seu pai ontem. A Bubu não reagiria diferente, você sabe. Um amor louco pela Bebele. - assenti. - Apesar de que sua atitude não foi legal. Mas vamos ficar em paz. - não respondi nada. - Quer comer?

- Não tô com fome. - fiz careta.

- Ah, mas você vai comer. Não vai se sustentar só de pensar na Mabele. - pegou um bolo e colocou na mesa, em minha frente. - Vem, senta. - pegou uma faca e eu sentei. Colocou em um prato e eu comi, lentamente. Não estava descendo.

- O pai foi pro escritório?

- Foi. - foi em direção a pia, para lavar a louça.

- Eu vou tomar banho e vou na Mabele.

- Filho, espera mais um pouco. - me olhou preocupada.

- Ela vai me ouvi, mãe! Só escutou aquela oferecida. Ela vai me ouvir! Me disse coisas horríveis que nem vale a pena repetir. Até parece que com esse meu erro se apagou tudo que já fiz por nós, por ela. - minha mãe suspirou e se virou para a pia novamente.

- Só espero que não tenha mais confusão.

- Não vai ter. Eu vou conversar civilizadamente. - terminei enfim de comer e fui tomar banho. Quando fui pega minha roupa, dei de cara com umas dela. Sorri ao ver as peças. Peguei uma blusa e cheirei. Ainda tinha o perfume dela. Lembro-me que Bele usou a peça rapidamente, só pra beber água. Estava com a minha blusa e disse que era falta de respeito com meus pais, ela descer com aqueles trages.

Logo fiquei pronto e com um tempinho depois, cheguei em frente ao seu prédio. Desci e encontrei o porteiro, já conhecido.

- Bom dia!

- Bom dia! Vou ligar pra dona Mabele, para avisar que você está aqui. - assenti. Ela vai me deixar subir. Até porque fiquei de vir pegar minhas roupas. - Pode subir. - sorriu depois de encerrar a rápida chamada. Sabia. Assim fiz, toquei a campanhia e logo ela me atendeu. Estava linda:

Era pra provocar? Pra onde ela vai assim? A curiosidade me consumiu e digamos que o ciúme também. Aquela roupa estava marcando demais o corpo dela.

- Aqui suas roupas. - já as tinha em mãos.

- Eu quero conversar.

- Eu já disse que não quero ouvir nada. Estou de saída.

- Mas você vai ouvir. Deixa de ser mimada. - falei firme e entrei, mesmo contra sua vontade.

- Mimada é o caralho! - me seguiu até o sofá. - Seja rápido. - sentou em minha frente, no outro sofá.

- Bele, eu sei que eu errei e você não sabe o quanto eu estou arrependido, culpado...

- Que fique mais. - falou friamente me interrompendo.

- Me deixa falar! - continuei. - Então, eu não te contei por medo. Medo de te perder. Você é uma das pessoas mais importantes da minha vida. E eu olhei, admito, mas não tinha intenção de te trair. Ela que me atacou. Amor, entende por favor. - eu estava desesperado. - Eu errei feio, mas não dúvida do meu amor por você. Não esquece de tudo que já fui capaz de fazer por nós, por você. Não deixa um erro acabar com tudo que construímos. - não segurei as lágrimas. - Eu não aguento ficar sem você. Faz o que quiser, mas não termina comigo. Eu preciso de você, Mabele.

- Você diz isso, mas eu já fui capaz de fazer muitas coisas pra você, por você. Não foi fácil aguentar tudo que aguentei e olha o que eu recebi em troca? Não dá Luan, acabou.

- Não me diz isso, cara. - as lágrimas escorriam e eu coloquei a mão em meu rosto. Senti ela se aproximar, sentou do meu lado.  - Eu amo você! Eu amo você demais. - olhei em seus olhos, através do seu óculos. Ela o tirou, me olhando. Pude ver seus olhos inchados. Vestígios de quem andou chorando.

- O que você fez foi demais pra mim.

- Mabele, você tá exagerando! Porra! - me alterei. - Eu só olhei, você nunca olhou não? Em? Me responde?

- Já, claro. Mas nunca encostei a minha boca em outra boca, enquanto estava com você. - estava calma.

- Não deu tempo, eu ia desviar, mas não deu tempo e não chegou a ser um beijo. Eu afastei logo. - eu estava um pouco ofegante e as lágrimas não sessavam. - Por favor, Mabele... Por favor. - vi em seus olhos, vestígios de lágrimas, mas logo virou o rosto.

- Não dá mais.

- Mabele...

- Por favor, Luan. Para de insistir. Eu não quero mais. - me olhou irredutível.

- Vai mesmo jogar tudo fora?

- Você já jogou, quando preferiu mentir.

- Você não entende meus medos? Você tá acabando comigo!

- E você acha que fez o que comigo? - ergueu as sombrancelhas.

- Me perdoa.

- Eu não consigo. Não agora. Você me ensinou muitas coisas, me ajudou a amadurecer e eu sempre vou ter lembranças boas de você, até porque você me fez muito feliz. Mas acabou. - sua última frase, foi como uma facada. Não disse nada, apenas baixei minha cabeça e me pus a chorar. - Eu preciso sair. E por favor, anuncia hoje. Não adia mais. - apenas assenti com a cabeça e levantei. Peguei minhas roupas. Já não tinha mais o que fazer, me abri, nada adiantou. Chegamos na porta e quando eu já estava do lado de fora, falei:

- Não se preocupa, hoje mesmo você vai ter seu nome desligado do meu. - virei e fui até o elevador. Aproveitei para limpar minhas lágrimas. É, Luan, acabou mesmo.





Os dois sofrendo.... Mabele irredutível em sua decisão. O Luan merece isso tudo? O que vocês acham? #PisaMaisMabele ou #SejeMenasMabele hahahaha.ais uma vez fico mtooooo  agradecida por todos os comentários.
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Bjs, Jéssica. ❤