segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Capítulo 168

Quando chegamos na chácara nos deparamos com o clima já esperado. Toda a família na casa de meus avós muito abalados, esperavam os corpos. Ramon me abraçou enquanto minha mãe já chorava junto de minhas tias. Nos braços de meu primo eu desabei, enquanto meus filhos estavam quietinhos em seus carrinhos que são bem flexíveis e couberam no carro.
Logo explicaram que se tratou de um infarto fulminante de ambos, o que nos deixou surpresas. Os dois infartaram juntos, no mesmo dia, na mesma hora. Era realmente amor!

Eu estava tomando chá, enquanto Melissa mamava e Enzo estava com um de meus primos, quando minha prima sentou do meu lado.

- Ela é linda. - sorriu pequeno olhando Melissa.

- Sim, ela é. - sorri de volta.

- Cuidar de dois ao mesmo tempo não é fácil né?

- Nem um pouco. - ri de leve.

- Ainda mais que o Luan não para em casa.

- Verdade. Mas é o trabalho dele e sempre que ele está em casa me ajuda.

- Que bom! Por falar nele, porque não veio?

- Eu tentei ligar mais ele não atendeu. - ela fez careta.

- É complicado, você está precisando tanto dele agora e ele não atende, está em outra cidade e provavelmente não poderá vir. - parei para pensar em suas palavras e não deixa de ser mentira. Meu coração apertou. - Eu não casaria com um cantor. - riu de leve. Lembrei que não é a primeira vez que ela me diz coisas parecidas, quando meu pai estava no hospital ela também me falou algo assim.

- O amor não escolhe profissão. - sorri de leve. Mas eu reconheço que realmente é complicado. Tudo que eu quero é ele aqui, e apesar de tudo, ele não deixará seu próximo show para estar comigo. Eu sei disso. Minha prima não está falando nemhum absurdo. Só quem ama muito aguenta toda essa rotina louca que envolve a música.
Ela não espondeu mais nada e ficou segurando a mãozinha de Melissa enquanto conversava com ela. Pronto, suas palavras ficaram grudadinhas em minha cabeça. Eu realmente não posso contar com ele pra absolutamente tudo. Não quando envolve sua profissão. Ele nem ao menos me atendeu! E já fazem horas. Ele não virá, eu sei disso tudo. Meu coração começou a se despedaçar, já não bastava as mortes, agora ainda tem essas palavras que não saem da minha mente. A vontade de chorar voltou, mas antes de isso acontecer um de meus tios entrou dizendo que os corpos haviam chegado. Levantei sentindo culpa. Para de pensar que seu marido não está sempre com você! É claro que está. Mesmo de longe, está sempre cuidado, protegendo e se preocupando. Dois lados dentro de mim brigavam, mas eu não sei se era pela sensibilidade, pelo momento nada feliz, que o lado onde acha que não posso contar com ele pra tudo gritou bem mais alto, mesmo que com isso eu sinta que estou sendo injusta com ele.

- Eu não sei se quero ver. - minha prima me olhou já em pé também. Nós estavamos na sala de tevê, onde não havia ninguém.

- Eu não quero, mas preciso me despedir deles. - fechei meus olhos com força e quando nós iriamos seguir, meu pai apareceu.

- Ei, não vai pra lá agora não. - Vitório e Gabi do seu lado.

- Porque?

- Está todo mundo muito abalado. Fica aqui, dá de mamar pra ela depois que tudo acalmar mais, você vai. - respirei aliviada, era tudo que eu estava precisando. Cuidado. Força. Assenti com a cabeça e voltamos a sentar.

- Eu vou indo lá, meu pai deve está arrasado. - minha prima disse e depois de deixar um beijo no rosto de cada um de nós.

- Como os vovôs foram pro céu, se eles entraram em um caixão? - Gabi perguntou.

- As almas deles foram, meu amor. - meu pai explicou, acariciando o cabelo dela. Enquanto Vitório estava visivelmente triste e agarrado a minha cintura.

- Como João tá?

- Nada bem. - meu pai lamentou. - Vem cá. - como se soubesse o que eu precisava, me acolheu em seus braços. Melissa parou de mamar e então eu arrumei minha blusa e Ramon apareceu.

- Olha só quem tá chorando. Tentei levar ele pro jardim por causa do momento, mas ele não parou de chorar.

- Deve está com fome também.

- Deixa que eu seguro ela.

- Coloca pra arrotar? Por favor?

- Claro! - fizemos a troca e foi só ele chegar em meus braços que seu choro ficou menos escandaloso.

- Você já vai comer, coraçãozinho. - voltei a dar de mamar e Ramon sumiu com minha filha. Fiquei recebendo o carinho de meu pai, ouvindo as inumeras perguntas de Gabi e o abraço de Vitório. Só faltava ele...

* Luan narrando.

Acordei por meio do despertador, já se passava do meio dia. Peguei meu celular e de cara vi as várias chamadas perdidas da Bele. Puta merda, algo aconteceu! Meu pensamento foi imediatamento em meus filhos. Ainda com a voz rouca, eu liguei pra ela que logo atendeu.

- Oi? - a voz muito abatida.

- O que aconteceu, amor?

- Você só acordou agora?

- Foi, tenho que ir comer e academia e depois a proxima cidade.

- Hum... Então é que meus avós maternos faleceram no inicio da manhã. - fiquei boquiaberto no mesmo instante.

- O que? Os dois? O que aconteceu?

- Eles tiveram um ataque cardiáco fuminante.

- Nossa cara! Que barra! - passei a mão por meu rosto. - Você deve tá muito mal. - suspirei querendo suprir sua dor.

- É, eu tô.

- Ô meu amorzinho, tudo que eu queria era ir ficar com você, mas eu não posso cancelar o show de amanhã.

- Eu já sabia. - seu tom soou estranho.

- Cê tá chateada?

- Não, Rafael.

- É claro que tá! - seu tom deixou bem claro pra mim.

- Eu só não tô bem, é isso. - suspirou pesado.

- Eu não te conheci ontem. Porque cê tá chateada comigo?

- Já que você insiste... Talvez porque eu te liguei um bilhão de vezes e nenhuma delas você atendeu? Talvez porque você não vai poder está comigo nesse momento dificil? Talvez porque eu estou quase enloquecendo por estar cuidando dos dois sozinha aqui, enquanto meu coração está um caco? Pelo menos meu primo tá ajudando. - suspirou. Suas palavras me atingiram com força.

- Você quer dizer que não pode contar comigo? É isso? - minha voz saiu bem baixa.

- Não sei Rafael. Você acha que eu posso?

- Mabele, eu me viro em mil pra te dar o máximo de atenção e agora ao nossos filhos também. Você está sendo injusta, não acha? - ouvi um choro de um de nossos gêmeos.

- Não vamos brigar tá? Eu só tô muito triste e precisando de você. Só isso. A Melissa tá chorando eu preciso tentar colocar ela pra dormir e o Enzo está mamando, então não tem como continuar falando com você. - sua voz mostra o quão afetada ela está pelos acontecimentos. E por mais que eu quisesse continuar aquela conversa, percebi que não era o momento apropriado. Apenas me despedi e fiquei pensando. Começando a me sentir culpado. Será que ela já está se cansando dessa coisa de viver com um cara que mal está em casa? Que realmente não é um marido normal? Suspirei e fechei os olhos com força, deitando novamente.
Quer saber? Eu vou pra lá! É, é isso, eu vou pra lá! Saltei da cama e já fui arrumando minha mala e ligando para Rober.

- Cara, em meia hora eu preciso ir pro interior de Sampa!

- Tá maluco? - ele riu.

- Não, viado. A Bele tá precisando de mim.

- Aconteceu alguma coisa?

- Os avós dela faleceram.

- Vixi!

- Agiliza! Fala com a Lelê. Ah, e olha se tem alguma pista de pouso no interior onde fica a chacará da família dela. Quero ir direto pra lá.

- Beleza. - desliguei e depois de jogar tudo que estava espalhado dentro da mala eu fui tomar banho. Mais uma vez fiquei refletindo em tudo que ela me disse. Ela sempre foi tão compreensiva! Sempre entendeu tão bem meu trabalho e agora... Não, isso não pode ter vindo dá cabeça dela.

(...)

Cheguei na chacara e encontrei alguns da família na entrada, me olharam surpresos e os cumprimentei, dando meus sentimentos. Logo entrei e na primeira sala, a sala de visitas eu encontrei a maioria ali, velando os corpos que estavam no centro da sala. Depois de cumprimentar a todos e dar meus sentimentos, olhei os avós de minha esposa. Eles pareciam estar dormindo, os rostos serenos e arrisco dizer que tinha um rastro de sorriso nos lábios de ambos. Eles foram felizes, foram juntos!

- Luan! - meu sogro falou ao chegar na sala com Enzo em seus braços. Fui até ele e imediatamente peguei meu filho. Que saudade eu senti! O cheirei. Cheiroso como sempre. - A Mabele disse que você não viria.

- É, mas eu dei um jeito. Tô aqui. - sorri de leve.

- Ela foi colocar a Melissa no quarto, acabou de dormir junto com a Gabi e o Vitório.

- Como ela tá, seu Joaquim? - Franzi a testa.

- Tá mal, muito mal. - ele lamentou. - Todos estão, como você viu. Não sei se acalento ela, ou Carol, ou João.

- É, ele também tá abatido. - olhei meu cunhado, que agora recebia o carinho de Mari.

- Vou ficar um pouco com a Carol. Vai lá falar com ela. - assenti e entrei quando subia as escadas, falando com Enzo, vi ela descer e paralisou quando me viu.

- O que você veio fazer aqui? - seu nariz vermelhinho, sua voz baixa. É, ela está mal. Continuei subindo e quando fiquei à altura dela disse:

- Eu vim ficar com você, cuidar de você e responder sua pergunta.

- Que pergunta? - franziu a testa e Enzo pousou a cabeça em meu ombro.

- Na ligação você perguntou se eu achava que você podia contar comigo e agora eu te respondo: você pode sim! Eu tô com você pra tudo e por tudo. - falei firme e ela suspirou silenciamente.

- Desculpa. - falou baixinho e eu a abracei com meu braço livre, acariciando seus cabelos.

- Tudo bem, meu amor. Vamos pro quarto? - ela concordou e foi um pouco na frente, vi ela passar os dedos no rosto.

Quanto entramos, deitei Enzo no meio da cama e me permiti olhá-lá. Tão linda! Tão minha! Tão, tão... Preciosa! Me aproximei e segurei as leterais de seu rosto.

- Seu avós parecem estarem tão em paz lá em baixo. Eu sei que é difícil,  eu já tive essas perdas também. Mas nós temos que pelo menos tentar entender que eles viveram o máximo. - vi suas lágrimas escorrendo pelo rosto, enquanto seus olhos não saiam dos meus. - Eles precisavam descansar junto de Deus. Lá é tão melhor que aqui, amor. Eles ficariam bem mais felizes se você e todos entendessem que agora eles estão se sentindo bem, muito bem. - limpei suas lágrimas com meus dedos delicadamente. - Lembra só dos momentos bons, o quanto eles te fizeram feliz e a marca boa que eles deixaram aqui. - coloquei meu dedo indicador em seu coração e já voltei minha mão para seu rosto. - A saudade vai doer muito! Mas com o tempo fica somente aquela saudade boa, a você vai rir, sorri quando lembrar deles. Entendeu? - ela assentiu e me abraçou.

- Eu estava precisando tanto de você. - deu enfase na palavra " tanto".

- Eu sei. Desculpa não ter te atendido. - eu acariciava seus cabelos novamente. E ela ficou em silêncio, me abraçando por um longo tempo. Até seu choro sessar. Se afastou, eu beijei suas lágrimas e todo seu rosto, levemente, delicadamente. Vi ela dar um sorriso torto.

- Eu te amo tanto, neguinho. - falou olhando em meus olhos.

- Eu também te amo demais! Muito, muito, muito! - sorri e selei nossos lábios, era pra ser só um selinho, mas ao encostar sua boca na minha me deu vontade de sentir sua língua dentro de minha boca, então prolonguei, matando toda a saudade dela, do seu beijo. Assim que encerrei, cheirei sua bochecha e seu pescoço e seu cabelo lentamente. Aproveitando o momento.

- Você não vai ver nossa filha? - E então lembrei de Melissa.

- Vou, mas antes eu quero te fazer duas perguntas. - segurei suas mãos.

- Tá, faz.

- Cadê minha princesa e meu afilhado? - franzi a testa. - Seu pai disse que eles estavam com você.

- Eles decidiram ir deitar no quarto ao lado. Tadinhos, a viagem foi longa e eles acordaram bem cedo. Eles não estão entendendo muito sabe?

- Sei... E a outra e mais importante: quem te falou essas bobagens de que você não pode contar comigo? - ela me olhou atenta.

- Como você sabe que alguém falou?

- Pinguinho, você sempre foi muito compreensiva. Sempre! Isso não partiu da sua cabeça. - ela olhou pro lado e voltou a me olhar.

- Foi minha prima.

- Que prima?

- A Isa.

- O que ela disse?

- Rafael, não importa. Eu que fui boba e sei lá... Acho que minha cabeça está uma confusão e acabei viajando.

- Você não quer me falar?

- Não tem importância. Sua filha está bem ali, no berço que meu primo trouxe de um amigo dele. - ela sorriu e eu decidi esquecer o assunto.

- Vou ver meu coraçãozinho. - sorri e levantei indo até ela. Eu nem cheguei direito perto do berço e ela acordou chorando. Bele gemeu frustrada.

- Ah não! - ela disse eu ri. Peguei minha filha nos braços e imediatamente ela parou de chorar. Olhei arregalado para minha pinguinho. Eu ainda me surpreende muito com ela ligação tão forte que ela tem comigo. Bele voltou sua atenção para Enzo e ficamos ali até eles dormirem, ela não queria estar no meio da família, nem ao menos ver por tantas horas seus avôs nos caixões, segundo ela isso a machucava mais. Percebi que com o tempo que passamos juntos de nossos filhos ela melhorou, e até conseguiu rir, pouquíssimas vezes, mas conseguiu. A fome bateu e só então lembrei que nem ao menos comi antes de vir para cá. Descemos e fomos para a cozinha, ela vai preparar alguma coisa pra mim e assim que chegamos lá, encontramos a bendita prima, que eu ainda não tinha visto.

- Luan, você aqui? - ela se surpreendeu.

- É, eu vim. A Bele pode contar comigo sempre. Estava precisando de mim e aqui estou eu. - sorri forçado e senti Bele me beliscar de leve nas costas, já que estávamos abraçados de lado.

- Que bom, ela realmente precisava de você. - sorriu sem graça. - Vou voltar pra junto da família. Licença. - saiu e eu bufei.

- Rafael, não precisava ficar soltando piada.

- Precisava sim! Bora muié, quero meu sanduíche. - ela revirou os olhos e foi preparar tudo, enquanto eu a olhava, admirava com todo o amor. As vezes a vontade de colocá-lá em um portinho e proteger de tudo, me toma por inteiro. As vezes a vontade de apertá-lá e morder como se fosse uma boneca, me consome também. Eu estou bem aqui. No meu lugar, ao lado dela.







QUE CAPÍTULO DEMORADO NÃO É? Ultimamente tá difícil escrever pela falta de tempo. Maaaas quero saber o que acharam? Não aconteceu nada com o Luan, como a maioria pensou. Rolou uma quase discussão não foi? Mas Luan resolveu tudo correndo pra junto da Bele. Que prima venenosa não é? Ou sincera? Vocês quem decidem! 
Pretendo postar mais rápido desta vez viiiuuu? 
OBRIGADA POR CADA COMENTÁRIO!!! 😍
BJS, Jessica. ❤

14 comentários:

  1. Venenosa isso sim, nao era a hora para sinceridade... mano q aperto no coraçao lendo esse capitulo.. demora continuar nao viu ;)

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    1. Eu chorei escrevendo, acredita? Kkk Não demoreeeei, móbem! ❤

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  2. Ai sério, vontade de tacar um berro na cara dessa isa... Meu coração ficou pequenininho lendo, eu amo muito eles meu deus que saco :((((( continuaaaa

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  3. Tudo que a Bele precisava/precisa é do Luan esta perto e graças a Deus que foi atras dela.Agora essa prima dela nao sei nao

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  4. Que bom que o luan foi ficar perto dela era tudo que ela está precisando continua por favor

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